Segundo os moradores mais velhos, no início do século XIX, seis negras escravas que conquistaram a liberdade, chegaram à região e arrendaram uma área de aproximadamente 3 léguas (1 légua = 6 km) em quadra. Com a produção e fiação do algodão que vendiam na cidade de Flores, conseguiram pagar a renda e ganharam o direito à posse das terras. Em 1802, as crioulas receberam a escritura definitiva com o carimbo da Torre, dezesseis selos, feita por José Delgado, escrivão do cartório de Flores.
História contada nos mais diversos sítios, ligando a identidade da comunidade de Conceição das Crioulas à descendência das suas fundadoras, que pelo trabalho tomaram a iniciativa de legitimar o terreno, antes mesmo dos homens que também aqui chegaram.
Um deles chamado Francisco José, fugido da guerra, trouxe na bagagem uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Ao encontrar-se com as crioulas, tiveram a idéia de construir uma capela e tornar a santa sua padroeira. Surgindo daí o nome do povoado: Conceição das Crioulas.A identidade de "remanescente dos quilombos" está intrinsecamente relacionada à origem das crioulas e às relações de cooperação entre os sítios que formam a comunidade. A descendência de determinadas famílias tradicionais é sempre resgatada de forma a confirmar o pertencimento e a participação na história de Conceição das Crioulas.
Ao contrário de outras comunidades negras que ainda lutam pelo reconhecimento como "remanescente de quilombos", em Conceição não se utiliza elementos que reportem à condição de escravos. Sempre a imagem das crioulas lembra o poder da autonomia e a articulação entre os sítios, reforçando o sentido de unidade e sua capacidade política-organizativa.
Tudo isso torna o povo de Conceição ciente da sua condição e do seu papel na sociedade, trazendo comprometimento com a construção de um novo futuro para a comunidade quilombola.
Em meio a uma vegetação composta por árvores de pequeno e médio porte, como juazeiro, baraúna, jurema preta, aroeira, caroá, catolé, está o povoado de Conceição das Crioulas. Até 1987 o algodão foi o sustentáculo da economia quilombola, mas com o ataque da praga do bicudo e a entrada dos fios sintéticos, a população assistiu a sua decadência.
Hoje, através de uma agricultura de subsistência, seus habitantes sobrevivem plantando milho, feijão, mandioca, jerimum e melancia. Há também pequenos criatórios de ovinos, caprinos, bovinos e suínos.
Com o sucesso da ação voltada para a valorização e desenvolvimento do artesanato, três recursos naturais ganharam destaque, como o caroá, o barro e o catolé.
O caroá é uma bromélia da espécie neoglaziovia variegata que fornece uma fibra para tecelagem. De caule curto, o caroá possui espinhos em sua borda, com folhas dispostas em roseta. Em meados do século XX, existiam fábricas de caroá em Conceição e imediações, mas foram desativadas com a concorrência do sisal.
O barro está presente até os dias atuais nos utilitários do povo de Conceição. Até a década de 50, aproximadamente, usava-se apenas louças de barro. Muitas dessas peças eram vendidas em feiras e lojas das cidades circunvizinhas como Cabrobó, Floresta e Salgueiro, em pequenos povoados e por encomenda de famílias influentes. Conhecidas como louceiras, as mulheres que trabalham com o barro pertencem todas a mesma família consangüínea e agregados através do matrimônio.
Palmeira silvestre da espécie rhapis pyramidata, bem comum no sertão, o catolé fornece uma amêndoa de onde se extrai óleo. A sua palha é aproveitada no artesanato, transformando-se em chapéus, cestas, bolsas, etc. Em Conceição, a palha do catolé sempre esteve presente na produção de vassouras e esteiras, sendo considerada, até o momento, uma atividade tipicamente dos mais velhos.
Fundada em 17 de julho de 2000, a Associação Quilombola de Conceição das Crioulas (AQCC) é uma sociedade civil sem fins lucrativos formada por 10 associações de produtores e trabalhadores rurais provenientes dos diversos sítios que compõe o povoado.
Nascida da necessidade de intensificar a luta pelo bem comum de Conceição das Crioulas, a AQCC tem como objetivos o desenvolvimento da comunidade - levando em conta sua realidade e sua história, a valorização das suas potencialidades, a conscientização do povo negro da sua importância para construção de uma sociedade justa e igualitária, a quebra da barreira do preconceito e discriminação racial.
No momento, o maior empenho da Associação Quilombola é a batalha pela posse da terra, com área aproximada de 17.000 hectares, numa perspectiva sustentável. A estrutura de funcionamento se dá através da Coordenação Executiva e de comissões formadas pelas lideranças da comunidade e, até o momento, a ACQC vem se mantendo com o trabalho voluntário dos seus sócios, não possuindo recursos financeiros suficientes para a sua perfeita atividade.